Era quinta-feira... dia magnífico para mim, pois foi o primeiro contato que tive contigo. Pedistes ao meu pai e eu logo roguei que ele te concedesse a casa, para ali comemorardes a Páscoa com teus discípulos. Sim, fui eu que supliquei, pois meu pai estava desconfiando que seria você aquele que todos acusavam de malfeitor. Estava muito claro que jamais você faria o mal a quem quer que fosse. Oh não, pelo contrário! Pessoas que fazem tantas coisas boas, jamais poderiam ser acusadas de malfeitores, mesmo que, vez por outra, agisse mal. Eu sempre tive vontade de viajar para Galiléia para te ver de perto, mas nunca tive a oportunidade. Hoje eu completo 20 anos, assim que a lua iluminar a terra. Meu maior sonho era ser um discípulo seu sabia? Eu queria aproveitar cada segundo que tivesse na existência só pra ficar perto de você, acho que isso me realizaria e encontraria um sentido novo e real para viver.
Eu organizei tudo, deixei tudo bem limpo para sua Páscoa e você me agradeceu. Podes não ter lembrado aquele olhar carinhoso e daquele sorriso como quem diz: obrigado! Mas foi o gesto mais gratificante que recebi. Olha Mestre, jamais vi coisas tão perfeitas assim. Depois que sorriste, eu saí e você me pediu que encostasse a porta. Mas faltavam ainda duas lamparinas, que pretendia colocar por sobre a mesa. Eu fiquei sem palavras, não sabia o que dizer... quando voltei com as duas lamparinas, já estavas conversando com os teus discípulos e eu não podia mais entrar naquela sala. Encostei a porta, mas deixei uma fresta, para poder observar o que se passava. Ah Mestre, me perdoa pela curiosidade, mas tens plena consciência que o meu espírito me pedia isso e eu não me perdoaria jamais se não contemplasse aquela ceia. Ninguém jamais comemorou a Páscoa com tanta intensidade.
Confesso que achei estranho num determinado momento em que um dos teus discípulos levantou-se sem nem ao menos ter terminado a ceia. Só lembro-me que ele falou: “Mestre, serei eu?” E tu respondeste: “Tu o dizes!” Mas serei eu o que? Naquela hora eu não compreendi nada. Todos começaram a conversar entre si, acho que eles também não entenderam muita coisa. Mas por hora, não importava aquele gesto. Para mim o que importava mesmo era a alegria de poder estar ali e admirar você e seus discípulos.
Depois, lembro-me que o senhor partiu o pão e partilhou com eles... Que belo sinal de partilha! Lá em casa minha mãe só põe na mesa, meu pai se serve e eu como depois do meu pai. Ali não, todos comeram juntos. Depois você levantou o cálice, só lembro-me de uma palavra: Aliança. O que viria a ser, eu não sei, mas quando fala de aliança, entendo como meu pai me ensinou e também o que aprendi no templo, que é a união entre Deus e os homens. Será que estavas fazendo isso também? Todos comeram e estavam felizes, vi até um encostar-se ao teu ombro... ele devia estar bem feliz mesmo. Na porta, você nem me notou, mas desconfio que sim, pois de vez em quando você dava uma olhada em direção a mim e sorria. Não sei por que, pois eu achava que estava escondido.
Agora a parte emocionante foi quando você se agachou e lavou os pés um por um dos seus discípulos. Isso poderia não ter significado nada, afinal é comum lavar os pés dos hóspedes ou visitantes, mas contigo era diferente, você é o mestre, eles que deveriam ter lavados seus pés. Ah se fosse eu... além de lavá-los, beijaria inúmeras vezes. Isso mesmo, você também beijou os pés deles! Daria tudo para receber um beijo seu.
E depois disso, vocês se foram. Percebi seu rosto meio aflito e preocupado, o clima estava meio tenso, mas meu espírito estava alegre e queria tanto poder te dizer que no próximo ano desejaria imensamente que você voltasse de novo para celebrar novamente sua Páscoa aqui na casa do meu pai. E essa também foi a minha Páscoa naquele dia.
2 comentários:
Parabéns, Ricardo por este texto belíssimo...
A sua precisão e riqueza de detalhes me faz sentir o pulsar do coração de Jesus me amando... Que assim seja, de fato, a nossa ceia com Ele!
Obrigado pelo comentário caro Túlio. Fico feliz pela sua participação. Seja bem vindo sempre!
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