sexta-feira, 3 de junho de 2011

O sentido de liberdade e o período escravocrata no Brasil

Na sexta-feira, dia 14 de maio, apresentei a todo curso de licenciatura do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - Unidade de Lorena, no Projeto Filosofia e a Música Popular Brasileira, um texto que preparei sobre a Liberdade, me remetendo ao período de escravidão aqui no Brasil. O texto foi desenvolvido com embasamento na música: upa neguinho! de Elis Regina. A produção ficou muito boa, tanto que foi elogiado publicamente pelo Prof. Ms. Daniel - responsável pelo projeto. Ao saber disso, meus amigos me solicitaram que  eu publicasse esse texto para aprofundamento e pesquisa e pra mim é uma honra postá-lo aqui para que tenham acesso, afinal, conhecimento só é conhecimento quando partilhado com outras pessoas. Boa leitura à todos!


Liberdade... quem és?
(Reflexão que se remete à música Upa! Neguinho de Elis Regina)

Muito se fala de liberdade, mas pouca definição se dá para ela. Mas será que há definição para Liberdade? Sem dúvidas se procurarmos no dicionário, encontraremos várias. Mas o que importa mesmo é vivê-la, se assim concordarem comigo. Sim, se formos capazes de definir a liberdade por nós mesmos, estaremos livres. Ir além de nós mesmos, sair de nosso estado de pequenez e de opressão é um passo para tal conquista. Livre, porém, é aquele sujeito autônomo, capaz de construir sua própria história e ser protagonista dela. Já dizia Kant, o filósofo da Idade Moderna na obra: Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento?: “O iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem”. (KANT, 1988)
Numa realidade em que muito se fala de liberdade e pouco a exerce, fica difícil trazer ao conhecimento o que de fato ela é. No entanto, ela é extremamente necessária e é também condição para a autonomia humana. Em mais um trecho de sua obra, o filósofo continua essa afirmação, encontrando culpados dessa menoridade no homem: “Tal menoridade é por culpa própria se a sua causa não reside na falta de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo sem a orientação de outrem”. (KANT, 1988)
Mas o que falar dos homens negros no tempo do Império aqui no Brasil? Como entender aqueles oprimidos que não tinham sequer o direito de dizer a sua palavra e estava extremamente subordinado aos mandos de outrem? Como relutarmos contra aquela realidade e não deixarmos como condição banal? E como perceber o sentido de escravidão numa realidade que ainda assola hoje, não só negros, mas todo e qualquer ser humano que estão presos na mais abominável condição de opressão.
É preciso que se observe, portanto, de que ponto se abre a perspectiva de análise das diversas formas de escravidão e levaremos assim as condições adversas de conscientização para cada caso. No entanto, podemos falar de duas situações de escravidão: a primeira refere-se aquela submetida por rigor de autoridade, em que se exerce obrigatoriamente uma postura contrária e até forçada, na maioria dos casos, à sua vontade; a segunda por outro lado é causada pela submissão voluntária, que poderíamos considerar de preguiça ou até mesmo acomodação, fazendo com que o indivíduo se abdique de seus direitos e deveres conferindo a outros tais responsabilidades, mantendo-se numa situação mais cômoda, onde Kant denomina de preguiça e covardia: “É tão cômodo ser menor. Se eu tiver um livro que tem entendimento por mim, um diretor espiritual que tem em minha vez consciência moral, um médico que decide da dieta, etc., então não preciso de eu próprio me esforçar. Não me é forçoso pensar, quando posso simplesmente pagar; outros empreenderão por mim essa tarefa aborrecida”. (KANT, 1988)
Depois de refletirmos sobre esses dois pontos essenciais no debate sobre a liberdade, enfocaremos acerca das questões antropológicas que desencadeiam no período escravocrata no Brasil, que na época era conduzida numa temática natural, em que o negro não era considerado pessoa humana. Aqui, porém, encontramos o ponto crucial para nossa reflexão: o que define o ser pessoa? Os acidentes, demonstrados por Aristóteles em sua metafísica, afirmando que esses em nada representam a sua essência? A racionalidade, defendida por Descartes em suas meditações e discursos? As questões antropológicas, definidas por Emanuel Monier no seu personalismo?
Consideramos, portanto, a complementaridade que todos esses pensadores podem dar na defesa dos direitos essenciais do homem e no seu aspecto de evolução da consciência. Tanto os negros como os brancos, independente da raça, são protegidos por sua constituição física e não pelos seus acidentes, pois a capacidade de pensar e agir conforme humanos é comum.
Contudo, os traços elementares que se somam à cognição de uma definição simples e clara do que leva a importância de se tornar livre, desencadeia no aspecto social e na estrutura harmoniosa da cidadania e da inserção do homem na polis. Mas infelizmente, não levemos em consideração termos gerais, pois no mundo inteiro ainda assola a colisão dos direitos humanos e das culturas e a escravidão ainda devasta a sociedade. Não se pode pensar de forma ingênua que de alguma forma haverá possibilidades de se abolir completamente essa problemática, que se tornou tão complexa ao ponto de levar-se a considerar como uma aporia, já que diz respeito à emersão de grupos anti-culturais para suprimir a tradição até milenar de certos povos. No entanto, remetemos à realidade de nossa nação brasileira e observamos que em várias regiões ainda há escravidão e de forma muitas vezes sutil e muito mais desumana, em que crianças são obrigadas a se submeter a trabalhos exaustivos que competia à pessoas adultas.
Enfim, uma proposta de ação em que se instaura na práxis elementar para conscientização do indivíduo é a melhor maneira de combater a escravidão e não deixá-la banalizada por atitudes até mesmo inconscientes ou trazidas por más informações. Afinal, a constituição física, atrelada ao ser pessoa do homem, garante sua subjetividade e o põe merecedor da liberdade, alforriado de toda e qualquer escravidão que seja, pois afinal, estes homens colaboram com a constituição da nação.

Um comentário:

Anônimo disse...

Passei por aqui para apreciar um pouco da sua criatividade.
Um Abração